Árbitro credenciado, foi nomeado pelo presidente da FIDE para o
torneio de candidatos. E fala um pouco sobre os bastidores da prova.
Há um representante português no torneio de candidatos ao título
de campeão mundial de xadrez. Só que não se trata de um jogador. Carlos
Oliveira Dias é um dos três árbitros da prova, tendo sido directamente nomeado
para essa função pelo presidente da Federação Internacional de xadrez (FIDE),
Kirsan Ilyumzhinov, naquela que é a mais importante arbitragem da sua carreira
e um feito que nenhum outro juiz português alcançou.
Nascido
em Moçambique há 53 anos, em Lourenço Marques, actual Maputo, foi ainda na
infância que teve as primeiras luzes sobre xadrez, por intermédio de dois tios,
que o introduziram nos segredos de Caíssa. Desde cedo se revelou mais
vocacionado para a componente organizativa das provas, tendo começado a
desenvolver essa vocação a nível escolar. O período conturbado da
descolonização fê-lo regressar, como tantos outros, a Portugal, instalando-se
na cidade de Leiria.
No
início dos anos 1980 realizou as suas primeiras arbitragens a nível nacional e
alcançou o título de árbitro internacional em 1997. O topo da carreira surgiria
em 2010, quando lhe foi outorgado o título máximo na arbitragem, o de FIDE Lecturer,
que apenas 43 árbitros no mundo inteiro possuem. Em conversa com o PÚBLICO,
partilhou algumas das suas impressões sobre aquele que, para muitos, já é
classificado como o mais importante torneio da história do xadrez.
No
carismático Savoy Place, no centro de Londres, onde decorre a prova, tudo está
organizado com o máximo de profissionalismo. O torneio foi planeado de forma
rigorosa: desde o conforto providenciado aos participantes aos cuidados para
evitar tentativas de fraude por uso de meios informáticos, com detectores de
metais e bloqueio de sinal de Internet, passando pelo fornecimento de um tablet aos espectadores presentes, com acesso
apenas a uma fonte específica de sinal, que permite seguir os comentários em
directo das partidas a decorrer.
“A
prova é realmente algo de especial. Desde os aspectos competitivos até aos
extracompetitivos, tudo foi programado ao detalhe. As peças são um modelo novo,
com design especial e exclusivo. As próprias transmissões são inovadoras”,
continua Carlos Dias. Aponta como único senão o ritmo de reflexão utilizado,
sem incremento de tempo por jogada nos primeiros 60 lances e, a partir daí, com
30 segundos acrescidos, o que já valeu ao infeliz Vassily Ivanchuk três
derrotas por exceder o limite estipulado de duas horas para os primeiros 40
movimentos.
Ivanchuk
é apenas um dos grandes xadrezistas com os quais o árbitro português convive
regularmente. “Os jogadores, de um modo geral, são simpáticos. Claro, uns mais
que outros. O [Levon] Aronian chegou mesmo a juntar-se a mim e ao árbitro chefe
na cerimónia de abertura e, quando lhe disse que a primeira vez que o arbitrei
foi em Cappelle, em 1996, era ele um garoto, respondeu-me: ‘The good old days [Os bons velhos tempos].’ O [Boris]
Gelfand, por exemplo, bebe um expresso no início e outro quase ao fim das
sessões. Já nem pede... no tempo certo, lá está o café”, conta.
A
visita a Lisboa da elite do xadrez mundial esteve na agenda da FIDE até há
pouco tempo - estava prevista a realização do terceiro torneio da série Grand
Prix na capital portuguesa -, mas, por decisão da Agon (empresa que detém os
direitos de organização do evento), a prova acabou por ser desviada para
Zurique, onde Carlos Dias fará a próxima arbitragem: “Com o cancelamento do
torneio de Lisboa, perdemos uma boa oportunidade de dar um empurrão no nosso
xadrez. Mas outras provas virão, estou certo.”
Sem comentários:
Enviar um comentário