terça-feira, 26 de novembro de 2013

O campeão do mundo de xadrez

Se ao pensar em mestres de xadrez a imagem que lhe vem à cabeça é de uns tipos pálidos, tendencialmente de óculos grossos, ar vagamente ausente e pouca vida social, pense outra vez. O novo campeão do mundo é um rapaz alto, e aparece em produções de moda e naquelas listas das revistas femininas que elegem os mais sexy do ano. Chama-se Magnus Carlsen, tem 22 anos e é um sonho tornado realidade para a promoção do xadrez. O que o miúdo norueguês conseguiu no Campeonato do Mundo a jogar em casa do indiano Viswanathan Anand, pentacampeão mundial, é história. Foi o primeiro jogador ocidental a chegar ao título mundial em 38 anos. O último tinha sido o mítico e excêntrico Bobby Fischer. O combate com Anand pelo título mundial durou 20 dias e ficou decidido ao fim de 10 partidas em 12 possíveis. Magnus ganhou por 6,5 contra 3,5 do adversário. Um campeonato de xadrez a este nível é uma prova exigente, mental mas também fisicamente. Anand e Carlsen mantiveram-se ativos ao longo do campeonato, quando não estavam sentados um frente ao outro. O indiano levantou pesos no ginásio, o norueguês jogava futebol, basquete e voleibol.
Magnus é um menino-prodígio, escusado será dizer. Aprendeu a jogar xadrez aos cinco anos, quando o pai, Henrik, percebeu que o miúdo tinha uma memória fora do comum. Por essa altura, conta o «Telegraph», sabia dizer a área, população, bandeira e capital de todos os países do mundo. Mas, contou o pai ao «Guardian», só começou a focar-se de facto no jogo quando se sentiu desafiado pelas irmãs mais velhas e quis ganhar-lhes.
Aos 13 anos já era Grande Mestre internacional, aos 19 foi o número um do mundo mais jovem da história. Apesar de toda a sua capacidade intelectual, não foi um aluno brilhante. E não quis ir para a universidade tirar um curso. «Os meus pais queriam que fosse, mas a certa altura perdi interesse na educação formal e eles não se importaram. Não prestava muita atenção, por isso não era muito bom na escola. Nos meus últimos anos na escola aborrecia-me, não necessariamente porque fosse muito fácil, mas porque não me interessava», contou ao jornal inglês «Guardian». Carlsen recusa ser visto como um génio. «Não, não sou. Sou apenas muito, muito bom naquilo quue faço. Tenho a felicidade de fazer algo de que gosto, mas não sou um génio.» Treinou xadrez com um dos melhores, Garry Kasparov. Em abril deste ano, quando a revista Time elegeu Carlsen como uma das 100 personalidades mais influentes do mundo, Kasparov escreveu isto sobre ele. «Tive oportunidade de treinar o Carlsen em 2009, e o estilo intuitivo dele conserva a mística do xadrez, num tempo em que qualquer adepto com um computador acha que o jogo é fácil. Carlsen tem carisma, é independente e talentoso. Se conseguir reacender o fascínio do mundo pelo jogo real, estaremos em breve a viver a era Carlsen.» Provavelmente, deu agora o passo que faltava. Com a vitória sobre Anand, Magnus Carlsen é oficialmente o melhor do mundo. Tornou-se o segundo campeão mais novo de sempre, a seguir precisamente a Garry Kasparov. Outra medida do seu génio: atingiu 2872 pontos no ranking Elo, um sistema que recorre a uma fórmula complexa para definir uma hierarquia, e o valor que atingiu é o mais alto alguma vez registado.
Faz tudo isto com estilo. Tem vários interesses além do xadrez (é fã de futebol e da Liga espanhola), e é um excelente veículo publicitário. Estima-se que ganhe mais de um milhão de euros por ano em patrocínios. Apareceu ao lado da atriz Liv Tyler na campanha publicitária de uma marca de roupa holandesa, foi eleito um dos mais sexy do mundo pela revista Cosmopolitan, é destaque na revista GQ. Um ícone pop.

domingo, 24 de novembro de 2013

Magnus Carlsen é o novo campeão mundial de xadrez

Magnus Carlsen é o sucessor de Viswanathan Anand no trono do xadrez, depois de ter derrotado o indiano por um concludente 6,5-3,5, num encontro que se realizou em Chennai, a capital do estado indiano de Tamil Nadu, previsto à melhor de 12 partidas. O norueguês, porém, necessitou apenas de disputar dez para garantir o triunfo. Carlsen, na véspera de celebrar o 23.º aniversário, é o segundo mais jovem campeão do mundo da história da modalidade, só atrás de Garry Kasparov, ainda que por uma diferença de apenas alguns meses. É, também, o 16.º campeão mundial, numa modalidade em que esse título surgiu pela primeira vez de forma oficial quando, em 1886, o austríaco, nascido em Praga, Wilhelm Steinitz foi reconhecido como tal. Voltam, assim, a estar reunidos na mesma pessoa a posição de líder do ranking da modalidade e o título mundial, algo que já não acontecia há vários anos, quando Anand se viu superado na lista mundial, primeiro por Kramnik, depois por Aronian e, desde 2010, por Carlsen. O encontro ficou sentenciado na nona partida, quando Anand tentou o tudo por tudo para recuperar da situação de desvantagem que as derrotas nas quinta e sexta partidas tinham produzido. Anand, pela primeira e única vez nomatch, colocaria Carlsen sob forte pressão, com um ataque directo sobre o rei capaz de produzir calafrios a qualquer um que não o norueguês. Com enorme sangue frio, Carlsen encontrou a defesa precisa e, simultaneamente, produziu contrajogo suficiente no flanco oposto. Anand permitiria mesmo que Carlsen coroasse um peão, ficando as negras com duas damas no tabuleiro, para prosseguir o ataque, mas dois lances depois confundiria as variantes e seria forçado a abandonar. Na quinta-feira, na 10.ª partida, bastava a Carlsen um empate, mas seria o norueguês quem procuraria nova vitória. O indiano, a jogar na sua terra natal, aplicou-se a fundo para evitar um resultado humilhante e conseguiria resistir, ainda que não pudesse evitar o que já se esperava, a perda da coroa que ostentava desde 2007. Para muitos, aos 43 anos, será o ponto final da carreira deste grande jogador, embora o próprio não tenha posto de lado a hipótese de ainda voltar a lutar pelo título. Mas como chegou Carlsen até ao topo desta modalidade? A sua ligação com o xadrez iniciou-se muito cedo quando o pai, Henrik Carlsen, engenheiro de profissão mas com uma forte afeição pelo xadrez, em que tinha alcançado como amador um nível muito razoável, lhe ensinou as regras do jogo com apenas cinco anos de idade. Dotado de uma memória prodigiosa, já com essa idade Carlsen sabia de cor todas as regiões da Noruega, com as respectivas áreas e populações, bem como todas as capitais do mundo, mas inicialmente a criança não mostrou especial atracção pelo xadrez e, só dois anos depois, participaria no primeiro torneio oficial. Seria aqui que Carlsen seria “descoberto” por Simen Agdenstein, o seleccionador norueguês, que na sua época chegara a integrar o top 50 mundial e que, curiosamente, também pertencera à selecção principal de futebol. A partir daí, a ascensão de Carlsen foi meteórica: aos 12 anos torna-se mestre Internacional e, logo no ano seguinte, Grande mestre, o segundo mais jovem de sempre, apenas superado pelo russo Sergei Karjakin. Em 2008 já está no top 20 e, dois anos depois, passa a ser o incontestado número um mundial, vencendo todos os torneios em que participa. Em 2011 recusa participar no torneio de candidatos por discordar do formato da prova, e assim gora-se a possibilidade de lutar pelo título no ano seguinte. Mas no novo ciclo as regras são mudadas e Carlsen aceita o convite para o novo torneio de candidatos. Em Londres, é o favorito e desde cedo assume o comando, mas uma inesperada derrota com Ivanchuk, a três jornadas do fim, põe a sua vitória em perigo. Ainda assim, acaba por vencer, ao ter melhor desempate que Kramnik. Agora, a pergunta que se impõe é por quanto tempo irá Carlsen manter-se no trono, ele que consegue manter na memória nada menos que 10 mil partidas e que, além disso, é capaz de utilizar a informação de que dispõe como ninguém.